Tucanos usam bico como 'radiador térmico' para controle de temperatura

Estratégia também é utilizada por outras aves, mas o tamanho da estrutura influencia diretamente na eficácia da troca de calor. Tucano-toco consegue regular a temperatura através do bico Kennedy Borges/iNaturalist Assim como os mamíferos, as aves também são animais endotérmicos, isso significa que possuem a capacidade de regular a temperatura corporal através do próprio metabolismo. Essa regulagem tem que ser precisa, já que a temperatura ideal para as aves, de acordo com o biólogo Denis Andrade do Departamento de Biodiversidade da Unesp, é de 37° C. “Há uma série de respostas que os animais podem ativar, tanto para numa situação de frio tentar conservar calor ou produzir mais calor, como numa situação de calor quando podem ativar respostas para dissipar calor ou para promover o chamado resfriamento evaporativo”, explica Denis. Segundo o pesquisador, esse esforço traz custos, às vezes mais “baratos” e às vezes “mais caros”, o que, na verdade, pode ser medido através do gasto de energia. Ele faz uma analogia ao comportamento humano, em que uma opção de pouco gasto seria abrir e fechar as janelas em dias quentes e frios. O bico do tucano-toco representa quase que 50% da superfície corpórea da espécie. Paul Donahue/iNaturalist Os mecanismos mais simples sempre são ativados antes dos mais complexos e uma das opções mais comuns nos organismos para regular a temperatura é ajustar as trocas de calor. “Imagina que uma ave está trocando calor com o ambiente, e ela tem os seus órgãos internos funcionando e produzindo calor também. De repente, ela está numa situação em que a temperatura está se elevando. O que seria interessante nesse caso? Mandar o sangue para as áreas superficiais do corpo, para dissipar esse calor, para irradiar esse calor para o ambiente”, diz. Só que esses animais são revestidos por penas, então, em muitos casos, a solução mais eficaz é enviar esse calor para o bico, que funciona como uma janela térmica ou até como um radiador de carro. Isso porque o bico é extremamente vascularizado, sem isolamento térmico e, em algumas espécies, com uma área de superfície grande. Em outros animais, como os elefantes, o calor é enviado para as orelhas e, em roedores, muitas vezes para o rabo. O tucano-toco habita mata de galeria, cerrado, capões e campos abertos Cezar Augusto dos Santos /VC no TG Um estudo liderado pelo próprio Denis em conjunto com o professor Augusto Abbe, da UNESP de Rio Claro e com o professor Glenta Tercel, da Universidade de Brock, no Canadá, mostrou que o tucano-toco (Ramphastos toco) tem um controle vasomotor muito bem desenvolvido e a termoregulação através do bico é de extrema importância para a espécie. A ave é o maior membro da família dos tucanos, que possui o maior bico em relação ao tamanho do corpo de todas as aves. Para constatar a hipótese, eles utilizaram a termografia de infravermelho a fim de visualizar as mudanças ne temperatura no bico em situações de frio e de calor. “Através das variações de temperatura na superfície do bico, percebemos uma vasoconstrição e uma vasodilatação, que varia com a quantidade de sangue que chegava na área e assim conseguimos calcular a capacidade desse animal de trocar calor com o ambiente”, relata. De acordo com o pesquisador, essa troca para regular a temperatura através do bico ocorre em todas as aves, o que muda é a relevância dessa troca, que é bem maior nas que possuem um bico grande, como os tucanos-toco, em que a estrutura representa quase 50% da superfície corpórea da espécie. “Existem outros trabalhos publicados que mostram que, conforme você se afasta da linha do Equador e a temperatura vai caindo, o bico das aves no geral vai se tornando menor. Essa é uma evidência meio paralela que significa que há uma relação entre a temperatura que os animais se encontram e o tamanho do bico, o tamanho das asas”, conta. De toda forma, as aves também conseguem dissipar o calor em toda a superfície corporal, mesmo nas áreas com penas, embora nesse caso, devido ao isolamento, a contribuição seja relativamente baixa. "Pés e pernas, por exemplo, também são relativamente importantes para a troca de calor", diz. O tucano-toco vive aos pares ou em bandos de duas dezenas de aves que voam em fila indiana. Rudimar Narciso Cipriani Vale ressaltar que essa é uma estratégia de controle de fluxo sanguíneo mais básica e que exige menos esforço, mas se a temperatura cair muito ou aumentar demais o animal precisará recrutar outros mecanismos que custam mais energia para tentar manter a temperatura corpórea. “Se o ambiente se torna muito quente, por exemplo, não adianta a ave mandar o sangue para o bico, porque não vai ter um diferencial térmico e ela não vai conseguir dissipar nenhum calor para o ambiente, daí será preciso recrutar outros mecanismos para se esfriar. No caso das aves, elas ofegam. Então, respiram rapidamente, respirações bem rasas”, finaliza. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente

Tucanos usam bico como 'radiador térmico' para controle de temperatura

Estratégia também é utilizada por outras aves, mas o tamanho da estrutura influencia diretamente na eficácia da troca de calor. Tucano-toco consegue regular a temperatura através do bico Kennedy Borges/iNaturalist Assim como os mamíferos, as aves também são animais endotérmicos, isso significa que possuem a capacidade de regular a temperatura corporal através do próprio metabolismo. Essa regulagem tem que ser precisa, já que a temperatura ideal para as aves, de acordo com o biólogo Denis Andrade do Departamento de Biodiversidade da Unesp, é de 37° C. “Há uma série de respostas que os animais podem ativar, tanto para numa situação de frio tentar conservar calor ou produzir mais calor, como numa situação de calor quando podem ativar respostas para dissipar calor ou para promover o chamado resfriamento evaporativo”, explica Denis. Segundo o pesquisador, esse esforço traz custos, às vezes mais “baratos” e às vezes “mais caros”, o que, na verdade, pode ser medido através do gasto de energia. Ele faz uma analogia ao comportamento humano, em que uma opção de pouco gasto seria abrir e fechar as janelas em dias quentes e frios. O bico do tucano-toco representa quase que 50% da superfície corpórea da espécie. Paul Donahue/iNaturalist Os mecanismos mais simples sempre são ativados antes dos mais complexos e uma das opções mais comuns nos organismos para regular a temperatura é ajustar as trocas de calor. “Imagina que uma ave está trocando calor com o ambiente, e ela tem os seus órgãos internos funcionando e produzindo calor também. De repente, ela está numa situação em que a temperatura está se elevando. O que seria interessante nesse caso? Mandar o sangue para as áreas superficiais do corpo, para dissipar esse calor, para irradiar esse calor para o ambiente”, diz. Só que esses animais são revestidos por penas, então, em muitos casos, a solução mais eficaz é enviar esse calor para o bico, que funciona como uma janela térmica ou até como um radiador de carro. Isso porque o bico é extremamente vascularizado, sem isolamento térmico e, em algumas espécies, com uma área de superfície grande. Em outros animais, como os elefantes, o calor é enviado para as orelhas e, em roedores, muitas vezes para o rabo. O tucano-toco habita mata de galeria, cerrado, capões e campos abertos Cezar Augusto dos Santos /VC no TG Um estudo liderado pelo próprio Denis em conjunto com o professor Augusto Abbe, da UNESP de Rio Claro e com o professor Glenta Tercel, da Universidade de Brock, no Canadá, mostrou que o tucano-toco (Ramphastos toco) tem um controle vasomotor muito bem desenvolvido e a termoregulação através do bico é de extrema importância para a espécie. A ave é o maior membro da família dos tucanos, que possui o maior bico em relação ao tamanho do corpo de todas as aves. Para constatar a hipótese, eles utilizaram a termografia de infravermelho a fim de visualizar as mudanças ne temperatura no bico em situações de frio e de calor. “Através das variações de temperatura na superfície do bico, percebemos uma vasoconstrição e uma vasodilatação, que varia com a quantidade de sangue que chegava na área e assim conseguimos calcular a capacidade desse animal de trocar calor com o ambiente”, relata. De acordo com o pesquisador, essa troca para regular a temperatura através do bico ocorre em todas as aves, o que muda é a relevância dessa troca, que é bem maior nas que possuem um bico grande, como os tucanos-toco, em que a estrutura representa quase 50% da superfície corpórea da espécie. “Existem outros trabalhos publicados que mostram que, conforme você se afasta da linha do Equador e a temperatura vai caindo, o bico das aves no geral vai se tornando menor. Essa é uma evidência meio paralela que significa que há uma relação entre a temperatura que os animais se encontram e o tamanho do bico, o tamanho das asas”, conta. De toda forma, as aves também conseguem dissipar o calor em toda a superfície corporal, mesmo nas áreas com penas, embora nesse caso, devido ao isolamento, a contribuição seja relativamente baixa. "Pés e pernas, por exemplo, também são relativamente importantes para a troca de calor", diz. O tucano-toco vive aos pares ou em bandos de duas dezenas de aves que voam em fila indiana. Rudimar Narciso Cipriani Vale ressaltar que essa é uma estratégia de controle de fluxo sanguíneo mais básica e que exige menos esforço, mas se a temperatura cair muito ou aumentar demais o animal precisará recrutar outros mecanismos que custam mais energia para tentar manter a temperatura corpórea. “Se o ambiente se torna muito quente, por exemplo, não adianta a ave mandar o sangue para o bico, porque não vai ter um diferencial térmico e ela não vai conseguir dissipar nenhum calor para o ambiente, daí será preciso recrutar outros mecanismos para se esfriar. No caso das aves, elas ofegam. Então, respiram rapidamente, respirações bem rasas”, finaliza. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente